segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Capitalismo nosso de cada dia

Lavei uma, duas, dez, vinte...
Chega! Cansei de lavar cuecas. Sinto saudade do tempo que morava com minha mãe. Eu não tinha que lavar, cozinhar, essas coisas.
Agora moro só, sou solteiro, cheio de responsabilidades e contas pra pagar, que são tantas que eu nem sei se o dinheiro dá. Na verdade o tempo passou tão rápido, que nem percebi que me tornei um adulto, já tenho 18.
Meus amigos adoram zoar todo mundo, fazem piadas até uns com os outros, quando a molecagem é comigo, me chamam de Zé cueca, não no sentido maldoso é claro. É porque gosto de comprar cuecas, às vezes sabe, uma vez por mês. Eles ficam dizendo: “O Marcos faz coleção de cuecas, deve ter uma pra cada dia do ano”. Que exagero, só não gosto de repetir uma cueca na mesma semana, o que tem de mal nisso?  E também acho que uma peça de roupa importante, apesar de ser íntima e vista por poucos. Se eu pudesse teria mesmo uma pra cada ocasião.
Falam de mim, como se fosse crime ter muitas cuecas. E o João, que nem usa cueca, quando se senta, mostra aquela bunda branca magra ridícula. E a gente é obrigado a ver aquele show de horror. Isso é que deveria ser crime, pela poluição visual. Eu não consigo andar sem cueca, tudo solto, balançando, não sei como ele agüenta. Mas o pior não é o João, é o Pedro, que usa a mesma cueca a semana inteira, que nojo. Não sei e nem quero saber se lava. Aquela cueca do Pedro é muito feia, um samba canção quadriculado, nada contra esse estilo de cueca, mas parece que foi do avô dele, que engraçado, eu não acho que cuecas sejam descartáveis, mas também não são uma boa herança de família. A galera só pesa na minha; Mas todos eles gostam de consumir alguma coisa. O João mesmo, por exemplo, não liga pra cueca, mas adora comprar boné, deve ter uns 50 e ninguém fala nada. Já a Marina adora comprar bolsas, uma de cada cor, para combinar com todas suas roupas. O Pedro só tem a cueca do vovô; Mas todo mês aparece de tênis novo E e quase todos mais caros do que o salário mínimo. A Fernandinha também tem paixão por pés bem calçados e não sabe viver sem comprar sapatos. E todo mundo ainda tenta me convencer, de que nessa sociedade capitalista em que vivemos, eu sou o único que comprar coisas supérfluas.


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