sábado, 21 de maio de 2011

S'PLASH

Hoje pela manha, quando entrei no meu banheiro, vi uma barata, daquelas que tem asas. Olhei para ela com um olhar ameaçador e ela correu em direção ao ralo, para tentar fugir; corri atrás pegando meu chinelo. A Encurralei no canto do banheiro, lhe dei uma chinelada quase fatal, ela ficou com os bofes pra fora e mesmo assim correu um pouco mais. Eu não queria esmagá-la, para não sujar o piso do banheiro, então a coloquei em uma pá e levei para o quintal, enquanto caminhava com a pá na mão, ela se retorcia, mexendo as cinco patas que ainda tinha, por que uma ficou no banheiro.
O meu principal desejo naquele momento era me livrar logo daquela barata, a joguei no chão, ela correu desesperada para não morrer, peguei um graveto fino de madeira para matá-la; Pois não queria sujar ainda mais o meu chinelo,  furei a barata bem no meio, como um guerreiro que atravessa o inimigo com uma espada. Ela me olhava com um olhar desafiador, de quem não iria morrer fácil, um olhar de quem tentaria sobreviver até o fim. Foi nessa momento que pensei.
Nós seres humanos não temos respeito pela vida, nus importamos com uma barata que passa do nosso lado. E ignoramos os seres humanos que vivem em situação de miséria. Usamos da força para abater os mais fracos e o progresso para destruir a natureza e os animais. Porque matar, só porque é uma barata nojenta, asquerosa e inútil merece morrer?
Splash...
Merece! 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Capitalismo nosso de cada dia

Lavei uma, duas, dez, vinte...
Chega! Cansei de lavar cuecas. Sinto saudade do tempo que morava com minha mãe. Eu não tinha que lavar, cozinhar, essas coisas.
Agora moro só, sou solteiro, cheio de responsabilidades e contas pra pagar, que são tantas que eu nem sei se o dinheiro dá. Na verdade o tempo passou tão rápido, que nem percebi que me tornei um adulto, já tenho 18.
Meus amigos adoram zoar todo mundo, fazem piadas até uns com os outros, quando a molecagem é comigo, me chamam de Zé cueca, não no sentido maldoso é claro. É porque gosto de comprar cuecas, às vezes sabe, uma vez por mês. Eles ficam dizendo: “O Marcos faz coleção de cuecas, deve ter uma pra cada dia do ano”. Que exagero, só não gosto de repetir uma cueca na mesma semana, o que tem de mal nisso?  E também acho que uma peça de roupa importante, apesar de ser íntima e vista por poucos. Se eu pudesse teria mesmo uma pra cada ocasião.
Falam de mim, como se fosse crime ter muitas cuecas. E o João, que nem usa cueca, quando se senta, mostra aquela bunda branca magra ridícula. E a gente é obrigado a ver aquele show de horror. Isso é que deveria ser crime, pela poluição visual. Eu não consigo andar sem cueca, tudo solto, balançando, não sei como ele agüenta. Mas o pior não é o João, é o Pedro, que usa a mesma cueca a semana inteira, que nojo. Não sei e nem quero saber se lava. Aquela cueca do Pedro é muito feia, um samba canção quadriculado, nada contra esse estilo de cueca, mas parece que foi do avô dele, que engraçado, eu não acho que cuecas sejam descartáveis, mas também não são uma boa herança de família. A galera só pesa na minha; Mas todos eles gostam de consumir alguma coisa. O João mesmo, por exemplo, não liga pra cueca, mas adora comprar boné, deve ter uns 50 e ninguém fala nada. Já a Marina adora comprar bolsas, uma de cada cor, para combinar com todas suas roupas. O Pedro só tem a cueca do vovô; Mas todo mês aparece de tênis novo E e quase todos mais caros do que o salário mínimo. A Fernandinha também tem paixão por pés bem calçados e não sabe viver sem comprar sapatos. E todo mundo ainda tenta me convencer, de que nessa sociedade capitalista em que vivemos, eu sou o único que comprar coisas supérfluas.


domingo, 8 de maio de 2011

"MASCARAS"

Mais um dia de trabalho, já acordei cansado e ainda é quarta-feira. Como de costume levantei ás 7:00 horas, tomei banho, comi rápido e sai com pressa, com a impressão de ter esquecido alguma coisa. Vou correr um pouco, pois não posso perder o ônibus das 7:30. Por que chegaria atrasado no trabalho, tem muito trânsito nessa cidade.

Que bom, consegui lugar pra ir sentado, na maioria das vezes vou em pé, vou encostar a cabeça no vidro e cochilar um pouco. Acho que dormi e estou sonhando, porque vejo mascaras ao invés de rostos, vejo a essência e não o estéreo tipo das pessoas. Começou quando abri os olhos, depois do meu sagrado cochilo no ônibus, vi um homem negro e magro sentado em uma cadeira de rodas, passeando entre os carros e pedido dinheiro para melhorar sua qualidade de vida. Usava uma mascara branca, que cobria metade do seu rosto, a boca estava livre com um lado da face á mostra. O transito ficou caótico, as pessoas que estavam calmas, tiraram suas máscaras e começaram a gritar com os outros motoristas. O homem da cadeira, saiu da avenida e entrou em um beco próximo a esquina, de onde eu estava, conseguia vê-lo tirando a sua mascara, colocando-a no colo e agora ao invés do rosto colocava dinheiro na mascara, não usava mais as mãos para mover a cadeira. Pois mesmo sentado caminhava. Fiquei intrigado com aquilo.
Todos usavam mascaras, menos eu. Não entendia o que estava acontecendo; Mas sabia que estava sendo privilegiado, vendo algo que ninguém podia ver. Talvez um dom Divino, talvez somente um sonho mesmo. Não sei, o que sei, é que só quero encontrar alguém como eu, sem máscaras, sem falsidades, sem mentiras ou talvez somente alguém. Desci do ônibus, no ponto final. A máscara do cobrador com pose de macho, era colorida e na verdade ele era gay. O motorista tinha uma mascara amarela, com um grande sorriso de simpatia. Porém na sua casa, tirava a mascara, mostrando como realmente sempre foi, um homem arrogante e irônico com os seus, que de aparências conseguiu as coisas que tem.

Nas ruas muitas pessoas, muitas mascaras, de todos os tipos, cores, formas e tamanhos. Enfim cheguei ao meu local de trabalho, a recepcionista que diariamente me recebia com um grande sorriso e muita simpatia, era uma garota bonita e triste, pois não conseguia encontrar um namorado fiel, que realmente a valorizasse como ela merece. Encontrei antigos colegas de trabalho, que pôr anos pareciam bons amigos, mais não viam o momento em que eu falhasse para tomar meu lugar.




Por um instante comecei a ficar desacreditado de que os homens pudessem ser transparentes, até que vi meu chefe e tive uma agradável surpresa, pois aquele homem de palavras ásperas e decisivas, que era perfeccionista e um pouco autoritário no local de trabalho, também era um Senhor simpático com os amigos, um bom pai e marido, com uma expressão aparentemente séria, pois já teve muitas dificuldades na vida, foi com muito trabalho e dedicação construiu tudo que sonhou. Fiquei muito admirado e comecei a me perguntar, o que estava acontecendo comigo e o porque eu não tinha mascara alguma.

O dia passou e finalmente chegou a hora de ir embora, no caminho de volta para casa encontrei algumas pessoas sem mascara e resolvi fazer amizade, pois não é todo dia que se tem o privilégio de ver além do que os olhos podem ver, voltei para minha casa, estava muito feliz, pois existem pessoas que me amam sem interesses próprios. Ao abrir a porta de casa o meu cachorro de estimação veio correndo ao meu encontro, tirei a roupa joguei sobre a cama e tomei um banho muito relaxante,  após isso me direcionei ao guarda roupas e tive uma terrível e desagradável surpresa, onde minha vergonha foi exposta diante de mim, pois para minha infelicidade aquele sentimento de que tivera esquecido algo não foi apenas um pressagio, pois realmente esqueci, meu rosto desfaleceu. Pois haviam mais mascaras no guarda-roupas do que eu vi durante todo o dia, pude entender que na realidade não se tratou de um sonho, um dom ou qualquer privilégio divino, eu estava tendo uma chance de me arrepender dos meus atos e amadurecer com meus erros. 


Minha mascara caiu diante dos meus olhos, entam lancei fora todas as minhas vergonhas e despido de qualquer impedimento, me permiti ser alguém melhor do que antes.


domingo, 1 de maio de 2011

Filho da Violência


Meu nome é José, tenho 10 anos, moro na rua dês dos sete, já morei com minha mãe, que nunca gostou de mim. Ao contrário da minha avó, que se chamava Maria, que brincava e conversava comigo, ela sim gostava de mim. A minha mãe não, ela nunca me abraçou ou me chamou de filho. Ela quase nunca falava. Mas todas as vezes que eu perguntava do meu pai, ela ficava com raiva e sem nenhum motivo me batia muito.

Um dia perguntei a minha mãe se ela tinha raiva de mim. Ela disse que não, tinha nojo; Então disse a ela que tomaria mais banhos para que ela não tivesse mais nojo. Me lembro que perguntei a minha avó sobre meu pai e ela disse que ele havia morrido. Eu sinto falta de um pai, então numa ultima tentativa, pedi uma foto dele a minha mãe, que gritou comigo dizendo que eu não tinha pai. E que nunca mais deveria perguntar sobre ele, que eu não deveria ter nascido, que fui um erro, uma desgraça na vida dela. Que eu era somente o filho da violência.
Eu não entendi por que ela  tava brigando tanto comigo, fiquei triste, chorei muito por ela ter dito que não queria que eu tivesse nascido. Dias antes da morte da minha avó, ela me falou que eu já era quase um rapazinho e ia entender o que ela estava tentando me dizer.

Maria - Quando sua mãe era mais jovem, eu morava com meu ex-marido, seu avô. E ele bebia muito e às vezes batia na vovó e na mamãe.Um dia percebi que sua mãe estava grávida; Mas não sabia quem era o pai, porque ela não queria me contar. Desconfiei que o comportamento dela mudou muito com o pai, fingi que ia sair e deixei os dois sozinhos em casa, fui até o fim da rua e voltei. E encontrei o seu vô ameaçando me matar se ela contasse a mim que a forçou a ter relações.
José - Então o meu avô é meu pai. E minha mãe é minha irmã?
Maria – Sim, ele forçou sua mãe a engravidar.
José – É por isso que ela não gosta de mim?
Maria – É porque você se parece muito com ele
José – E onde esta meu avô? ou meu pai, sei lá.
Maria – Esta preso, sua mãe queria fazer um aborto, eu não deixei.

Após isso, em pouco tempo, minha avó morreu e eu fugi sem destino. Hoje quando me perguntam quem são meus pais, eu respondo o desprezo e a violência. E se perguntam sobre aborto. Acredito que preferia ter sido um aborto, do que ter
uma vida infeliz.


Foto: MAURILO CLARETO Livro CIDADÃO DE PAPEL do autor: GILBERTO DIMENSTEIN / - Prêmio Jabuti de 1994/ sobre a infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil.